5.2.07

está morto, joaquim. nada vivo na carcaça de meu coração. não sobrou nada. tudo foi devastado pelo tempo que foi perdido. o tempo comido nos dias surdos e preguiçosos. eu quis dançar e não soube como. e na carta você me falava da dança possível. mas minha dança possível é de restos e vermes, marcha fúnebre e choro, joaquim. eu sei que aqui dentro há amor, há coisas que o
espelho não me mostra porque me vejo pequena e o reflexo é malicioso e malvado. ele ri das curvas não completas, do olho triste e do corpo desengonçado. e ele ainda pode ver meu coração através da luz que entra na janela, e atravessa correndo minha blusa lilás, tocando meu seio sorridente que esconde, inocentemente, o peito que não acorda pra não ter que viver.

e, sim, esse é um atestado de incapacidade. porque eu aprendi, joaquim, que quem não se enxerga, não dança.