10.3.17

nesses dias eu ando pelas ruas
a espiar para dentro das casas
procurando as noites de ano novo que se passaram,
mas que ainda cintilam fantasmagoricamente em espectros e rastros.

vejo os vultos alegres vestindo branco,
borrões iluminados de gente contente com taças na mão.
vejo um riso que se rasgou na varanda repleta de samambaias,
um giro de uma dança amorosa e bêbada.
vejo abraços que faíscam.

sólidas e densas é que são tuas cores,
e teu corpo é jarro de tinta fresca e espessa.
és o pequeno senhor com quem firmei o compromisso de ajudar a ser de novo criança.
e cada vez que te aperto em meus braços, meu filho,
sinto como se fosse o reveillon de um ano extraordinário que durará minha vida inteira.

aconchego o teu tamanho e é sempre meia noite.
soa o primeiro artifício, tudo ensurdece e entra em suspensão.
inflam-se em mim todas as tuas perguntas -
e sei que enquanto as rumino, recompactuo com o divino.

tudo corporifica-se,
amadurece,
e te entrego a realidade que tenho
com o amor todo que eu posso ser.












futuros promissores que não se cumpriram.
uma coleção de pequenos carpometacarpos ressequidos.
cada humano carrega seu particular ossuário de pássaros.