24.9.10

ela aprendeu, agora aprendeu, que as coisas não podem ser maiores ou menores do aquilo que são.

custou a entender, mas entendeu, que a escala em que enxergamos o mundo determina o tamanho do que somos perante as coisas. e descobriu, assim, que é na irredutibilidade da dimensão, da geometria traçada correndo montada na luz que cria os olhos, que reside a dor.

e de forma besta, quase safada de tão besta, se disse em voz alta, sozinha, frente à janela do quarto: "um lápis é um lápis, e um guindaste é um guindaste. e sei que não posso alargar nem reduzir além do que cada coisa é. porque um lápis quebrado não é mais o mesmo lápis e um pedaço de guindaste é apenas ferro velho... e se o meu pai não possui toda ira que possui, não é o homem que aprendi a amar como pai".

constatou, por fim, constatou, que é a presença certa da dor que dá sentido a tudo que nos cerca. porque há um parto para fazer existir cada signo que elegemos para explicar a nós mesmos sobre o mundo.

então voltou para casa e abraçou o pai, e no abraço lhe entregou todo seu amor e toda sua mágoa, do tamanho exato, milimetricamente exato, daquilo que são.