22.5.09

há como que um pássaro submerso,
um filho caçula afogado no rio de margens largas e de profundidade extrema,
algo de precioso e fresco perdido no abissal de minha íris

está algemado na pedra primeira da casa de infância,
confinado às águas turvas e sem cor,
grudado ao trinco no concreto do túnel que liga o olho ao cérebro

lá, perdidos por trás e por baixo de tudo,
como ramificações de tumor gelado,
a confundirem-se com sargaço verde,

o pássaro, o filho e a preciosidade,
encasulam-se com o fio de minha espinha dorsal,
mantendo-me eternamente ereta e hirta.