6.12.07

reconheço meu defeito: no fundo, poucas coisas me assustam. no fundo, no fundo, o que me assusta é o que não me assusta.

não que eu seja alheia à dor. mas em mim se precisa de muito para que eu saia do lugar. se precisa de muito para merecer meu descompasso. merecer meu desalento. porque meu desalento vem de dentro, como lava que corre embaixo do chão. então queima e leva tudo e petrifica o caminho e seca o ar. e é de mim que escorre quente e esvai.

o que me assusta é constatar que, na verdade, nada é perigoso. nada amedronta. que tudo o que há no mundo é cru e possível. e que a vida é feia mesmo, às vezes.

é quando meu desalento vira paz. e aceito a dor do mundo. e amo infinitamente tudo à minha volta. porque sou feita de amor apesar do peso das pedras. das rochas vulcânicas e da fumaça de cinzas que sufoca. porque amar é tudo o que resta. é o que faz a vida bonita mesmo, às vezes.

reconheço meu defeito: amar é tudo o que faço contra a evidência do inevitável e trágico, ou do evitável e cretino, ou do inesperado devastador. e estou em paz comigo por saber que a vida não perdoa. nunca.