como alguém vivo enterrado a sete palmos,
cravando as unhas na madeira,
tentando, em vão, sair
- e sei que a cada unhada morro mais um pouco.
alimento o bicho com meus vazios.
aqui dentro há despovoados. ermos. abandonos.
e como são todos ocos, não há como deles se fartar.
por isso está sempre faminto.
parasita que me afina as paredes,
retirando mucosa, órgãos, pele,
comendo com raiva e fome cada um,
a espetar-lhes sempre as unhas.
vinga-se, deixando-me, lentamente, como corpo acústico de ocos e ecos,
catedral imensa sem móveis, nem devotos.
come também minhas preces,
e a pouca fé que reveste meu espírito,
come com seu jeito de quem nunca descansou,
de que nunca lhe alimentaram de verdade,
de que o enterraram vivo para que se calasse para sempre.
testemunha e vítima.
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