23.5.05

minhas fotos de infância confirmam:
cresci amando a água,
e ainda a amo;
mas meu amor pelo vento cresceu
e alcançou meus poemas
em bolhas de sabão.

é que meu corpo ansioso o sente
o tempo inteiro a beijar meus dias,
soprando a poeira de meus livros
e circulando como alma pelo meu quarto.

e meus pequenos olhos sempre sentem
que o vento alisa meus cílios,
e minha pele acorda num arrepio,
quase um bocejo de pele,
quando o vento me acaricia.

o vento é uma criança
que se abraça com as roupas de meu varal,
dançando horas seguidas
sob a sombra do meu jambeiro,
e depois mete-se a correr ligeiro,
arrastando as gotinhas de água
perdidas no chão de pedras de meu quintal.

então chega o entardecer,
quando as cores do mundo trabalham em confundir-se,
deslizando pela garganta do céu,
pintando estrelas no horizonte.

e é quando, secretamente, o vento me procura -
e quando fala traz o cheiro dos lírios
que dependuram-se a querer espiar
para dentro da janela de onde durmo! -
e conversa as conversas de vento,
as brisas que tão bem entendo,
e diz-me que à noite não tem descanso
porque vento não sabe o que é cansaço -
e confessa que inveja os humanos,
porque quando dormem
sonham que voam,
e diz-me triste, o coitado:
"moça, às vezes queria voar sem ter que estar acordado".

3 comentários:

Prospero di Milano disse...

moça, você já leu a ostra e o vento, de Moacir Lopes? Nem precisa mais.

Chico Lacerda disse...

[chato mode]tem um 'sente' a mais que tá atrapalhando, 'sentem' na terceira estrofe; o desfecho é muito bonito, mas achei que o caminho tem curvas demais até chegar a ele; dava uns três textos diferentes.[/chato mode]

simone jubert disse...

uêba! chato mode on! :*